Bom, este post é uma tradução de um artigo que tinha escrito para wespeaknews.com, site de citizen journalism em que trabalhei na Índia.
A sociedade indiana tem atravessado muitas mudanças nos últimos 20 anos, especialmente com a abertura do país através da liberalização econômica. Mais que proporcionar acesso a bens e serviços para muitos indianos, a liberalização também abriu a cabeça de muitos indianos.
Como bem descreve o especialista em marketing Dheeraj Sinha no seu livro Consumer India – inside the indian mind and wallet, a cultura indiana tem sido guiada tradicionalmente – e de uma forma incontestável por milênios – por valores como espiritualidade sobre o materialismo, substância sobre o superficial, ser correto ao invés de oportunista; os quais refletem a prevalência do pensamento brâmane (o mais alto grupo de casta, cuja função social é manter a custódia dos sacramentos religiosos) na sociedade indiana.
Mas ao longo da liberalização comercial, o mercado consumidor na Índia tem encontrado espaço no pensamento xátria (grupo de casta ao qual pertence os guerreiros e militares) como propulsor, assim como as mudanças sociais e culturais que emergiram no país nos últimos anos. Sobre o pensamento xátria, a sociedade indiana vem se abrindo a valores como competitividade, glória, honra, sucesso, tomar iniciativa; possível de perceber na forma como muitas marcas e empresas se comunicam atualmente com os seus públicos, sobretudo com os jovens.
E como parte dessa migração gradual de paradigmas – digamos assim -do pensamento brâmane ao pensamento xátria, é possível ver, ainda que sutil, uma reinterpretação do conceito de “karma“. Tal reinterpretação significa adotar este conceito numa perspectiva ativa, ao invés da tradicional perspectiva passiva. A idéia “karma” continua ligada ao destino de uma pessoa, mas este mesmo destino pode ser alterado assim que uma nova perspectiva abre caminho a um novo leque de ações que, enfim, possibilitam um diferente destino.
Um dos exemplos dessa reinterpretação do “karma” é visto entre muitos jovens indianos, especialmente nos centros urbanos, que mostram a sensação de tomar as rédeas do próprio destino, de não enxergar limitações impostas pela casta, por exemplo. A idéia de ativar o próprio destino através de ações individuais é um dos principais códigos culturais emergentes na atual sociedade indiana. Com oportunidades que as gerações anteriores nem sequer poderiam sonhar, os jovens indianos não vêem limitações para realizar seus sonhos e viver a sua vida fora do círculo e das pressões familiares.