Ativar o próprio destino

Bom, este post é uma tradução de um artigo que tinha escrito para wespeaknews.com, site de citizen journalism em que trabalhei na Índia.

A sociedade indiana tem atravessado muitas mudanças nos últimos 20 anos, especialmente com a abertura do país através da liberalização econômica. Mais que proporcionar acesso a bens e serviços para muitos indianos, a liberalização também abriu a cabeça de muitos indianos.

Como bem descreve o especialista em marketing Dheeraj Sinha no seu livro Consumer India – inside the indian mind and wallet, a cultura indiana tem sido guiada tradicionalmente – e de uma forma incontestável por milênios – por valores como espiritualidade sobre o materialismo, substância sobre o superficial, ser correto ao invés de oportunista; os quais refletem a prevalência do pensamento brâmane (o mais alto grupo de casta, cuja função social é manter a custódia dos sacramentos religiosos) na sociedade indiana.

Mas ao longo da liberalização comercial, o mercado consumidor na Índia tem encontrado espaço no pensamento xátria (grupo de casta ao qual pertence os guerreiros e militares) como propulsor, assim como as mudanças sociais e culturais que emergiram no país nos últimos anos. Sobre o pensamento xátria, a sociedade indiana vem se abrindo a valores como competitividade, glória, honra, sucesso, tomar iniciativa; possível de perceber na forma como muitas marcas e empresas se comunicam atualmente com os seus públicos, sobretudo com os jovens.

Interior de uma casa noturna em Mumbai

Balada em Mumbai. Embora não seja parte da cultura indiana, as baladas nos centros urbanos é uma evidência da Índia moderna.

E como parte dessa migração gradual de paradigmas – digamos assim -do pensamento brâmane ao pensamento xátria, é possível ver, ainda que sutil, uma reinterpretação do conceito de “karma“. Tal reinterpretação significa adotar este conceito numa perspectiva ativa, ao invés da tradicional perspectiva passiva. A idéia “karma” continua ligada ao destino de uma pessoa, mas este mesmo destino pode ser alterado assim que uma nova perspectiva abre caminho a um novo leque de ações que, enfim, possibilitam um diferente destino.

Um dos exemplos dessa reinterpretação do “karma” é visto entre muitos jovens indianos, especialmente nos centros urbanos, que mostram a sensação de tomar as rédeas do próprio destino, de não enxergar limitações impostas pela casta, por exemplo. A idéia de ativar o próprio destino através de ações individuais é um dos principais códigos culturais emergentes na atual sociedade indiana. Com oportunidades que as gerações anteriores nem sequer poderiam sonhar, os jovens indianos não vêem limitações para realizar seus sonhos e viver a sua vida fora do círculo e das pressões familiares.